domingo, 5 de junho de 2022

Conhecimento Científico e Conhecimento Vulgar


Conhecimento Científico

Tem como objetivo formular leis e teorias que possam explicar e descrever fenómenos, além de criar previsões mediante as quais deveremos agir eficazmente.

Ao contrário do senso comum, o conhecimento científico é caracterizado por ser sistemático, rigoroso, metódico e objetivo.

É um conhecimento experimental, antidogmático, crítico e reversível, nunca assumindo algo como definitivamente absoluto, por muito seguro que possa parecer, já que o que hoje nos parece verdade pode futuramente, depois de ser criticamente escrutinado, revelar-se uma ilusão. Um exemplo disto foi a transição do modelo geocêntrico do Universo para o modelo heliocêntrico.

Uma vez que assenta na experimentação e/ou em meios formais de prova, bem como na revisão dos seus resultados, as suas respostas e conclusões são maioritariamente confiáveis e ultrapassam a superficialidade das aparências.

A linguagem técnica utilizada tem a vantagem de evitar ambiguidades, embora torne os seus enunciados menos acessíveis.

Conhecimento Vulgar (ou Senso Comum)

O conceito de conhecimento vulgar refere-se às ideias e noções que são adquiridas a partir da experiência das pessoas e que geralmente são transmitidas de geração em geração. São conhecimentos que são aceites como verdadeiros, sem a necessidade de verificação e que são usados ​​para resolver problemas da vida quotidiana.

Não procura explicar a realidade, mas enquadrá-la num todo social corrente e estável. É por isso, superficial, acrítico e subjetivo, mas, ainda assim, fundamental para que, por exemplo, possamos atravessar a rua sem sermos atropelados. É formulado numa linguagem corrente, originando algumas ambiguidades. O conhecimento vulgar opõe-se ao conhecimento científico, que é o obtido através da reflexão, raciocínio lógico, análise e verificação metódica, contrariamente ao conhecimento vulgar.


Relação entre conhecimento vulgar e conhecimento científico

Dado o facto de o conhecimento vulgar se basear em pressupostos que faltam ao científico, há uma relação de rutura entre os dois.

Ainda assim, há alguma complementaridade entre as duas formas de conhecimento, por serem ambas indispensáveis ao ser humano.

Além disso, muito do conhecimento que hoje pertence ao senso comum, pertenceu outrora ao conhecimento científico (por exemplo: o movimento de translação da Terra em volta do Sol…)

Qual a origem do conhecimento?

O ato de questionar acerca do conhecimento é quase tão antigo como a própria Filosofia. Já Platão e Aristóteles dedicaram grande parte da sua reflexão às questões do conhecimento, mas só na época moderna, nos séculos XVII e XVIII, que filósofos como Descartes, David Hume e Kant elegeram a teoria do conhecimento como uma das áreas fundamentais da Filosofia.

No que toca, especificamente, à origem do conhecimento surgem perguntas como:

“Qual é, realmente, a origem do conhecimento?”

“Será que o conhecimento provém unicamente da experiência?”,

“Será que o conhecimento tem origem na razão?”,

“Ou provirá de ambas as fontes, mas com diferentes graus de verdade?”. 

Por isso, o problema da origem do conhecimento consiste em determinar como se adquirem as ideias e os primeiros princípios que normatizam todo o conhecimento. 

Na tentativa de responder a pergunta sobre a origem do conhecimento, surgiram duas teorias fundamentais: o empirismo, racionalismo. 

Teoria racionalista 

Salienta o papel da razão, afirmando que esta, só por si e sem auxílio da experiência (a priori, portanto) garante a aquisição e justificação do conhecimento.

 Logo para os racionalistas a fonte do conhecimento é a razão ou pensamento. 

Descartes e o racionalismo

Como procede o pensamento para construir um conhecimento verdadeiro?
Descartes institui a dúvida como método, como instrumento de trabalho na busca de verdades indubitáveis sobre as quais seja possível fundar um edifício de conhecimento seguro. 
Assim, o pensamento deve proceder de forma metódica, de modo a eliminar qualquer erro. Mas para ser eficaz nada pode escapar à dúvida, que é universal e a dada altura, também hiperbólica. 
O certo será apenas e só o indubitável, ou seja, todas as crenças que resistirem ao exercício da dúvida são aprovadas, enquanto as crenças que não resistirem, vão ser rejeitadas.
O exercício da dúvida faz surgir uma primeira certeza indubitável, a existência do sujeito pensante, o que deu origem ao cogito de Descartes: "Penso, logo existo". 
Esta é a primeira verdade que emerge do método cartesiano, ou seja esta é a primeira verdade inabalável que resiste inclusivamente à dúvida hiperbólica( génio maligno). ​


Quem garante esse critério?
Deus

Deus garante que tudo o que é claro e distinto é verdadeiro. Descartes explicou a existência de Deus através do seguinte processo: 

apesar de ser imperfeito, este tinha em si a ideia de perfeição. Se imperfeição não gera perfeição então esta ideia só poderia ter sido depositada nele por um ser perfeito(Deus). Como a existência decorre necessariamente da perfeição, então Deus tem de existir.
Segundo isto, se Deus é perfeito, não o pode querer enganar (pois a bondade é uma característica da perfeição), o que garante a verdade das ideias claras e distintas.
Com Deus como garantia Descartes deduziu outras verdades, como a existência do mundo, por exemplo e construiu com toda a segurança o seu edifício do conhecimento.

Teoria empirista

O empirismo defende que toda a nossa estrutura cognitiva é formada com base na experiência prática, de modo que, quanto mais vastas, intensas e ricas as nossas experiências, mais amplo e profundo o nosso conhecimento.

Hume e o empirismo

De onde provém o conhecimento?

Todo o conhecimento provém da experiência sensível. Os primeiros dados do conhecimento são impressões sensíveis sob a forma de perceções ou representações. 

As perceções correspondem a  qualquer conteúdo da experiência e ocorrem quando o indivíduo observa, sente, recorda, imagina. Segundo Hume, existem dois tipos de perceções: 
  • as impressões (sensações).
  • ideias (imagens ou cópias). 
Como procede o pensamento ao raciocinar e construir o conhecimento?

O nosso raciocínio funciona por associação de ideias. As inferências resultam da capacidade da imaginação permitir antecipar os acontecimentos futuros, mas essa associação de ideias não é arbitrária. 

Existem, segundo Hume leis que dirigem essa combinação das ideias, como:

Semelhança
Se dois objetos se assemelham, então a ideia de um conduz ao pensamento do outro.

Contiguidade no espaço e/ou tempo
Se dois objetos são contíguos no espaço e/ou no tempo, a ideia de um leva à ideia do outro

Causa ou efeito
Pensamos os objetos em função da relação de um com o outro. A causa traz-nos ao pensamento o efeito. O efeito transporta o pensamento para a causa.



Conhecimento de ideias(a priori):
Consiste em estabelecer relações entre as ideias que constituem cada uma das proposições.

Ex: "doze é o triplo de quatro"

Conhecimento de factos (a posteriori):
É o tipo de conhecimento que só pode ser obtido através das impressões, ou seja, através da experiência, e que nos fornece informação verdadeira acerca do mundo.

Ex: "A chuva molha" 

Como adquirimos as crenças?


Teoria de Immanuel Kant

Kant percebeu que a experiência sensível tinha um papel fundamental na construção do conhecimento.
Concordou com os empiristas, ao considerar que só há conhecimento a partir dos dados captados pelos sentidos.
Concordou com os racionalistas, pois afirmou que nem todo o conhecimento tem origem.

De acordo com o filósofo alemão, o conhecimento provém de duas fontes do espírito:
A primeira consiste em receber as representações (a recetividade das impressões);
A segunda é a capacidade de conhecer um objeto com base nessas representações (espontaniedade de conceitos).

Assim este afirma que os objetos são alvo de sensações que geram em nós impressões. 
Contudo, os objetos precisam de ser reconhecíveis para que essas impressões tenham sentido. 
Por isso, o conhecimento das coisas do mundo é influenciado pela sensibilidade e o entendimento.















Problema da racionalidade científica

 

A evolução científica é um tópico bastante discutido na comunidade filosófica e traz-nos perguntas como:

  • Como progride a ciência?
  • A ciência é objetiva?

Apresentam-se dois pontos de vista diferentes, o de Thomas Khun e de Karl Popper.

Estes dois filósofos possuem duas visões completamente distintas em relação a estas duas perguntas. Focar-nos-emos na racionalidade da tão falada ciência. Então como progride a ciência para cada um destes filósofos?

 

Thomas Kuhn e a evolução da ciência

 

Kuhn pensa de forma radicalmente diferente das pessoas que o rodeavam e defende que a ciência não progride com simples acumulação de conhecimento e sem qualquer tipo de conflito, este defende que a ciência evolui através de revoluções científicas.

Kuhn apresenta também um ciclo de 3 fases, sendo estas a fase normal, fase critica ou extraordinária e fase revolucionária, estas 3 fases estão presentes no chamado ciclo de Kuhn.


Neste ciclo está também presente uma 4ª fase que aparece apenas uma vez, não estando incluída no ciclo em si, que antecede a primeira fase normal, chamamos a esta fase a pré-ciência, este período é todo o tempo que houve sem haver um paradigma estabelecido.

Para Kuhn um paradigma é a chave para a ciência e a progressão das 3 fases, um paradigma pode ser definido por: estrutura teórica de um certo modo de ver e de praticar a ciência.

Um paradigma vai ser partilhado por o que vamos chamar de comunidade científica, que é uma comunidade que tem a mesma visão sobre a ciência, seguindo o mesmo paradigma.

Como evoluem as fases do ciclo?

Com o surgimento de um paradigma saímos do período da pré-ciência e entramos na fase normal, sendo esta a fase mais longa, uma fase sem problemas ou conflitos em que um paradigma é aceito e consegue trazer respostas aos problemas apresentados.

Durante esta fase com o passar do tempo irão surgir problemas e algumas peças essenciais à resolução de problemas irão falhar com um paradigma, se não se chegar a uma resposta com o paradigma existente irá começar a surgir conflito, as anomalias, e acaba por se instaurar um período de crise.

Durante o período de crise poderá haver mudanças na prática científica e entramos na fase crítica, fase onde os cientistas tentam dentro ou fora do seu atual paradigma procurar as respostas às anomalias que surgem.

O período de crise e fase extraordinária irão acabar quando: a ciência normal (ciência que se dirige pelo paradigma regente) encontra resposta às anomalias apresentadas; O problema é etiquetado, mas abandonado deixando para as gerações futuras, muitas vezes devido a crença de falta de tecnologia e conhecimento; emersão de um novo paradigma e discute-se a sua aceitação.

Quando um novo paradigma é apresentado e aceite vai-se dar uma revolução científica, e com esta revolução voltaremos à fase normal da ciência, repetindo este ciclo indefinidamente.

Para Kuhn os paradigmas são incomensuráveis, querendo dizer que não poderemos comparar paradigmas visto que estes possuem visões diferentes e incompatíveis.

Kuhn foi também alvo de críticas neste seu ponto de vista e acusado de ser relativista.

 

Karl Popper e a evolução da ciência

 

A ciência para Popper evolui através de conjeturas e refutações, para a eliminação do erro, sendo que, cada vez que eliminamos o erro nos aproximamos mais da verdade, mas, nunca a atingindo completamente.

Popper faz muito a comparação do seu método com o evolucionismo e a seleção natural, a teoria que resistiu mais aos erros apresentados será a mais forte e resistente logo a mais verdadeira e será a aceite.

O conhecimento será continuo e melhorado ao longo do tempo.

 

segunda-feira, 7 de março de 2022

Lógica


A lógica é a ciência que estuda as inferências e foi fundada por Aristóteles. Divide-se em lógica formal e lógica informal.

A lógica formal dedica-se ao estudo sistemático das formas de inferência válidas e inválidas, ou seja, concentra-se mais na forma que os argumentos assumem - a sua validade.

Por outro lado, a lógica informal é mais aplicada ao conteúdo que está presente em cada uma das premissas - a sua verdade.




Distinção da validade e da verdade

Validade: forma lógica em que o argumento é apresentado (forma/estrutura do argumento).

Verdade: refere-se ao valor de verdade das proposições que constituem um argumento (conteúdo/matéria).


Iremos apenas abordar, por agora, a lógica formal.


Lógica formal


  • Proposições: frases declarativas e indicativas com valor de verdade

Podem ser verdadeiras ou falsas.


  • Argumento: complexo formado por uma ou várias proposições (premissas) a partir das quais se chega a uma única proposição (conclusão).


  • Argumentos dedutivos: preservam a verdade e não a ampliam além das premissas, isto é, não dizem mais do que aquilo que estas obrigam.

Podem ser válidos ou inválidos.

  • Argumentos indutivos: são extrapolações do particular para o geral o que torna as suas conclusões apenas plausíveis.

Podem ser fortes ou fracos.


Conetivas ou operadores verofuncionais:


  • negação (¬p): a negação de uma frase tem o valor de verdade oposto ao da frase de partida;
  • conjunção (pq): é verdadeira se, e apenas se, todas as proposições que a compõem forem verdadeiras;
  • disjunção inclusiva (pq): é verdadeira se, e apenas se, pelo menos uma das frases disjuntas for verdadeira;
  • disjunção exclusiva (pq): é verdadeira se, e só se, apenas uma das suas frases disjuntivas for verdadeira;
  • condicionalização (pq): é falsa se, e apenas se, a antecedente for verdadeira e a consequente falsa;
  • bicondicionalização (pq): é verdadeira quando, e só quando, as proposição que a compõem assumem em simultâneo o mesmo valor de verdade;




Formas de inferência sempre válidas

Como qualquer disciplina, a lógica formal, no estudo do seu objeto (argumentos dedutivos), também tem por missão chegar a leis. Neste caso, essas constantes são aquelas que permitem obter argumentos dedutivos válidos


  • modus ponens: P→ Q, P Q


  • modus tollens: P→ Q, ¬ Q ¬P


  • contraposição: P→ Q ¬Q → ¬P


  • silogismo disjuntivo: P v Q, ¬P Q


  • silogismo hipotético: P→ Q, Q →R P→ R


  • 1º lei de Morgan: ¬ (P ^ Q) (¬ P v ¬ Q ) 


  • 2º lei de Morgan: ¬ (P v Q) (¬ P ^¬Q)



Falácias formais

Erro de raciocínio que muitas vezes passa despercebido. As falácias formais apenas dizem respeito à estrutura do argumento, ou seja, se a conclusão deriva necessariamente das premissas. Duas das principais falácias formais resultam da má utilização das formas de inferência modus ponens e modus tollens.


  • falácia da afirmação do consequente: P→ Q, Q P

  • falácia da negação do antecedente: P→ Q, ¬P ¬ Q


Conhecimento Científico e Conhecimento Vulgar

Conhecimento Científico Tem como objetivo formular leis e teorias que possam explicar e descrever fenómenos, além de criar previsões mediant...